O Primo Basílio - Cap. 10: CAPÍTULO X Pág. 275 / 414

O quarto dos baús tinha uma janela nas traseiras; era alto e espaçoso; guardavam-se ali os oleados de Jorge, as suas malas, os paletós velhos, e veneráveis baús do tempo da avó, de couro vermelho com pregos amarelos.

- Ficava ali como no céu, minha senhora!

- E... aonde se haviam de pôr os baús?

- No meu quarto, em cima. E com um risinho: - Os baús não são gente, não sofrem...

Luísa disse um pouco embaraçada:

- Bem, eu verei; eu falarei ao Sr. Jorge.

- Conto com a senhora.

Mas apenas nessa tarde Luísa explicou a Jorge "a ambição da pobre de Cristo", ele deu um salto:

- O quê? Mudar os baús? Está doida!

Luísa então insistiu: era o sonho da pobre criatura desde que viera para casa! Enterneceu-o. Não, ele não imaginava; ninguém imaginava o que era o quarto da pobre mulher! O cheiro empestava; os ratos passeavam-lhe pelo corpo, o forro estava roto, chovia dentro; fora lá há dias, e ia tombando para o lado...

- Santo Deus! Mas isso é o que minha avó contava das enxovias de Almeida! Muda-a, muda-a depressa, filha!... Porei os meus ricos baús no sótão.

Quando Juliana soube o favor:

- Ai, minha senhora, é a vida que me dá! Deus lho pague! Que eu não tinha saúde para viver num cacifo daqueles.

Ultimamente queixava-se mais; andava amarela, trazia os beiços um pouco arroxeados; tinha dias de uma tristeza negra, ou de uma irritabilidade mórbida; os pés nunca lhe aqueciam. Ah! Precisava muitos cuidados, muitos cuidados!...

Foi por isso que daí a dois dias veio pedir a Luísa, se fazia o favor de ir ao quarto dos baús. E lá, mostrando-lhe o soalho velho e carunchoso:

- Isto não pode ficar assim, minha senhora, isto precisa uma esteira senão, não vale a pena mudar. Eu se tivesse dinheiro não importunava a senhora, mas.





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