O Primo Basílio - Cap. 2: CAPÍTULO II Pág. 40 / 414

Se quisesse alguma coisa do Alentejo...

Julião carregou o chapéu na cabeça:

- Dá cá outro charuto, por despedida! Dá cá dois!

- Leva a caixa! Eu em viagem só fumo cachimbo. Leva a caixa, homem!

Embrulhou-lha num Diário de Notícias; Julião meteu-a debaixo do braço, e descendo os degraus:

- Cuidado com as sezões, e descobre uma mina de ouro!

Jorge e Sebastião entraram na sala. Ernestinho, encostado ao piano, torcia as guias do bigodinho, e Luísa começava uma valsa de Strauss - o Danúbio azul.

Jorge disse, rindo, estendendo os braços:

- Uma valsa, D. Felicidade?

Ela voltou-se, com um sorriso. E por que não? Em nova era falada! Citou logo a valsa que dançara com o senhor D. Fernando, no tempo da Regência, nas Necessidades. Era uma valsa linda, dessa época: A pérola de Ofir.

Estava sentada ao pé do Conselheiro, no sofá. E como retomando um diálogo mais querido - continuou, baixo para ele, com uma voz meiga:

- Pois creia, acho-o com ótimas cores.

O Conselheiro enrolava vagarosamente o seu lenço de seda da Índia.

- Na estação calmosa passo sempre melhor. E D. Felicidade?

- Ai! Estou outra, Conselheiro! Muito boas digestões, muito livre de gases... Estou outra!

- Deus o queira, minha senhora, Deus o queira - disse o Conselheiro esfregando lentamente as mãos.

Tossiu, ia levantar-se, mas D. Felicidade pôs-se a dizer:

- Espero que esse interesse seja verdadeiro...

Corou. O corpete flácido do vestido de seda preta enchia-se-lhe com o arfar do peito.

O Conselheiro recaiu lentamente no sofá - e com as mãos nos joelhos:

- D. Felicidade sabe que tem em mim um amigo sincero...

Ela levantou para ele os seus olhos pisados, de onde saíam revelações de paixão e súplicas de felicidade:

- E eu, Conselheiro!.





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