O Primo Basílio - Cap. 3: CAPÍTULO III Pág. 49 / 414

Estivera em Constantinopla, na Terra Santa, em Roma. O último ano em Paris! - Vinha de lá, daquela aldeola de Paris! - Falava devagar, recostado, com um ar íntimo, estendendo sobre o tapete, comodamente, os seus sapatos de verniz.

Luísa olhava-o. Achava-o mais varonil, mais trigueiro. No cabelo preto anelado havia agora alguns fios brancos; mas o bigode pequeno tinha o antigo ar moço, orgulhoso e intrépido; os olhos quando ria, a mesma doçura amolecida, banhada num fluido. Reparou na ferradura de pérola da sua gravata de cetim preto, nas pequeninas estrelas brancas bordadas nas suas meias de seda. A Bahia não o vulgarizara. Voltava mais interessante!

- Mas tu, conta-me de ti! - dizia ele com um sorriso, inclinado para ela. - És feliz, tens um pequerrucho...

- Não - exclamou Luísa rindo. - Não tenho! Quem te disse?

- Tinham-me dito. E teu marido demora-se?

- Três, quatro semanas, creio.

Quatro semanas! Era uma viuvez! Ofereceu-se logo para a vir ver mais vezes, palrar um momento, pela manhã...

- Pudera não! És o único parente que tenho agora...

Era verdade!... E a conversação tomou uma intimidade melancólica; falaram da mãe de Luísa, a "tia Jojó", como lhe chamava Basílio. Luísa contou a sua morte muito doce, na poltrona, sem um ai...

Onde está sepultada? - perguntou Basílio com uma voz grave; e acrescentou puxando o punho da camisa de chita: - Está no nosso jazigo?

- Está.

- Hei de ir lá. Pobre tia Jojó!

Houve um silêncio.

- Mas tu ias sair! - disse Basílio de repente, querendo erguer-se.

- Não! - exclamou. - Não! Estava aborrecida, não tinha nada que fazer. Ia tomar ar. Não saio, já.

Ele ainda disse:

- Não te prendas...

- Que tolice! Ia à casa de uma amiga passar um momento.





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