O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 89 / 414

Não tivera; e pareceu-lhe que as ligações do casamento lhe tinham trazido um pouco o plebeísmo das convivências. Mas um respeito pelas opiniões, pelas de Jorge fez-lhe dizer:

- Diz que tem muito talento...

- Era melhor que tivesse botas.

Luísa, por cobardia, concordou.

- Também o acho esquisito! - disse.

- Horrível, minha filha!

Aquela palavra fez-lhe bater o coração. Era assim que ele lhe chamava, houve um momento de silêncio; e a campainha da porta retiniu fortemente.

Luísa ficou assustada. Jesus! Se fosse Sebastião! Basílio achá-lo-ia ainda mais reles. Mas Juliana veio dizer:

- O Sr Conselheiro. Mando entrar?

- Decerto - exclamou.

E a alta figura de Acácio adiantou-se, com as bandas do casaco de alpaca deitadas para trás, a calça branca muito engomada caindo sobre os sapatos de entrada baixa, de laço.

Apenas Luísa lhe apresentou o primo Basílio, disse logo, respeitoso:

- Já sabia que Vossa Excelência tinha chegado; vi-o nas interessantes notícias do nosso high life. E do nosso Jorge?

Jorge estava em Beja... Diz que se aborrece muito...

Basílio, mais amável, deixou cair:

- Eu realmente não tenho a menor idéia do que se possa fazer em Beja. Deve ser horroroso!

O Conselheiro, passando sobre o bigode a sua mão branca onde destacava o anel de armas, observou:

- É todavia a capital do distrito!

Mas se já em Lisboa se não podia fazer nada, e era a capital do reino! - E Basílio repuxava, todo recostado, o punho da camisa. - Morria-se positivamente de pasmaceira.

Luísa, muito contente da afabilidade de Basílio, pôs-se a rir:

- Não digas isso diante do Conselheiro. É um grande admirador de Lisboa.

Acácio curvou-se:

- Nasci em Lisboa, e aprecio Lisboa, minha rica senhora.





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