O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 90 / 414

E com muita bonomia:

- Conheço porém que não é para comparar aos Parises, às Londres, às Madris...

- Decerto - fez Luísa.

O Conselheiro continuou com pompa:

- Lisboa porém tem belezas sem igual! A entrada ao que me dizem (eu nunca entrei a barra) é um panorama grandioso, rival das Constantinoplas e das Nápoles. Digno da pena de um Garrett ou de um Lamartine! Próprio para inspirar um grande engenho!...

Luísa, receando citações ou apreciações literárias, interrompeu-o; perguntou-lhe o que tinha feito. Tinham estado domingo no Passeio, ela e D. Felicidade; tinham esperado vê-lo, e nada!

Nunca ia ao Passeio, ao domingo - declarou. - Reconhecia que era muito agradável, mas a multidão entontecia-o. Tinha notado - e a sua voz tomou o tom espaçado de uma revelação - tinha notado que muita gente, num local, causa vertigens aos homens de estudo. De resto queixou-se da sua saúde e do peso dos seus trabalhos. Andava compilando um livro e usando as águas de Vichy.

- Podes fumar - disse Luísa de repente, sorrindo, a Basílio. - Queres lume?

Ela mesma lhe foi buscar um fósforo, toda ligeira, feliz. Tinha um vestido claro, um pouco transparente, muito fresco. Os seus cabelos pareciam mais louros, a sua pele mais fina.

Basílio soprou o fumo do charuto, e declarou muito reclinado:

- O Passeio ao domingo é simplesmente idiota!...

O Conselheiro refletiu e respondeu:

- Não serei tão severo, Sr. Brito! - Mas parecia-lhe que com efeito antigamente era uma diversão mais agradável. - Em primeiro lugar - exclamou com muita convicção, endireitando-se - nada, mas nada, absolutamente nada pode substituir a charanga da Armada! - Além disso havia a questão dos preços... Ah! Tinha estudado muito o assunto! Os preços diminutos favoreciam a aglomeração das classes subalternas.





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