Havia quatro ou cinco de nós naquele lado, e tornava-se óbvio o que devíamos fazer, Era preciso arrastar os sacos de areia do parapeito à frente e formar uma barricada cobrindo o lado desprotegido, e isso muito depressa. O fogo estava alto por enquanto, mas poderia vir mais baixo a qualquer momento e pelos clarões de disparos feitos ao redor dava para ver que tínhamos cem ou duzentos homens contra nós. Começamos a arrancar os sacos do parapeito e a carregá-los vinte metros à frente, atirando-os numa pilha de qualquer maneira. Que trabalho horrível! Eram sacos de areia bem grandes, pesando uns 45 quilogramas, e exigindo todo o vigor de que se dispunha para saírem do lugar. Depois disso a aniagem apodrecida se rasgava e a terra molhada caía por cima em cascata, pelo pescoço abaixo e subindo as mangas da roupa. Lembro-me de ter sido assaltado pelo horror que tudo aquilo me causava, o caos, a escuridão, o ruído assustador, as carreiras de um para outro lado na lama, as batalhas com aqueles sacos pesados que estouravam à toa - e tudo isso na atrapalhação causada pelo fuzil que eu não largava de jeito algum, com medo de ficar sem ele. Cheguei a gritar para um dos companheiros, enquanto caminhávamos aos tropeções, carregando um saco:
- Então isto é a guerra! Não é uma bosta?
De repente, uma série de vultos altos surgiu aos pulos pelo parapeito da frente. Ao aproximarem-se de nós, vimos que usavam o uniforme de Guardas de Assalto, e soltamos aclamações, acreditando que se tratasse de reforços, Mas eram apenas quatro homens, três alemães e um espanhol, e mais tarde ficamos sabendo o que acontecera aos Guardas de Assalto. Não conhecendo o terreno e mergulhados na treva, deram com os costados no lugar errado, onde se viram apanhados pelo arame farpado dos fascistas, e ali bom número deles fora fuzilado. Aqueles quatro perderam-se dos demais o que era muita sorte para eles. Os alemães não falavam uma só palavra de inglês, francês ou espanhol. Foi com dificuldade e muita gesticulação que lhes explicamos o que estávamos fazendo e conseguimos sua ajuda na formação da barricada.
Os fascistas, a essa altura, tinham trazido uma metralhadora. Podíamos vê-la cuspindo fogo a cem ou duzentos metros, seus projéteis choviam em cima de nós num gargalhar firme e gelado. Não tardamos a jogar um número suficiente de sacos de areia no lugar, a fim de conseguir uma cobertura baixa da qual os poucos homens naquele lado da posição podiam manter-se deitados e usar suas armas. Eu estava de joelhos, atrás deles. Uma granada de morteiro passou assoviando por cima e estourou em algum lugar na terra de ninguém.