Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 2: II Pág. 93 / 273

Depois, tinha saído de casa para ir para um colégio, tinha feito a primeira comunhão e comido rebuçados guardados no seu boné de críquete, e observado a luz da lareira a subir e a dançar na parede do quartinho da enfermaria e sonhara que tinha morrido, que o reitor rezava uma missa por ele, com paramentos negros e dourados, que tinha sido, em seguida, enterrado no pequeno cemitério da comunidade, ao lado da avenida principal das tílias. Mas não tinha morrido nessa altura. Parnell é que tinha morrido. Não tinha havido missa de corpo presente nem procissão. Ele não tinha morrido, tinha-se apagado como uma película exposta ao sol. Tinha-se perdido ou saído da existência, porque já não existia. Era estranho pensar que ele abandonara a existência dessa forma, não morrendo, mas apagando-se ao solou ficando perdido e esquecido algures no universo! Era estranho ver o seu pequeno corpo reaparecer por momentos: um rapazinho que envergava um fato cinzento cintado. Tinha as mãos enfiadas nos bolsos e as calças apertadas com elásticos à altura dos joelhos.

Na tarde do dia em que a propriedade foi vendida, Stephen seguiu o pai, humildemente, de taberna em taberna. Aos vendedores do mercado, aos empregados e empregadas dos bares, aos pedintes que o importunavam, pedindo-lhe dinheiro, Mr. Dedalus contava a mesma história - que era um antigo natural de Cork, que se esforçava havia trinta anos por se livrar da sua pronúncia de Cork, em Dublim, e que o Joãozinho das Minhocas que o acompanhava era o seu filho mais velho, mas era apenas um natural de Dublim.

Tinham saído de manhã cedo, do café de Newcombe, onde a chávena de Mr. Dedalus embatera com força no pires, e Stephen tinha tentado disfarçar aquele vergonhoso sinal dos excessos alcoólicos do pai na noite anterior, arrastando a cadeira e tossindo.





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