Soltou-se-lhe dos lábios uma exclamação consternada ao ouvir-me dizer que tencionava ficar; não tinha, todavia, a menor hipótese de negar que havia muitos quartos disponíveis.
«Está bem assim. Não poderá arranjar-me aquele em que fiquei quando cá estive da outra vez?»
Ele suspirou debilmente por trás de uma pilha de caixas de cartão, que estavam em cima da mesa, e que bem podiam ter outrora contido luvas, lenços de assoar ou gravatas. Não me era possível entender o que é que dentro delas o tipo teria guardado. Naquele antro que era o seu, havia um cheiro a coral em decomposição ou poeira do Oriente e a espécimes zoológicos incertos. Tudo o que pude ver por cima do obstáculo das caixas foram a cabeça e os olhos dele, cheios de infelicidade e levantados na minha direcção.
«É só por uns dias», disse-lhe eu, tencionando animá-lo. «Talvez o senhor queira pagar adiantado», lembrou-me ele com interesse.
«Mas isso com certeza que não!», exclamei assim que consegui recuperar o uso da fala. «Nunca vi uma coisa destas! Isso é um descaramento dos demónios...»
Ele deitou as duas mãos à cabeça, num gesto de desespero total que dominou a minha indignação.