A República - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 41 / 290

— Expliquemo-nos: vês por outro sítio sem ser pelos olhos?

— Por certo que não.

— É ouves por outro sítio sem ser pelos ouvidos?

— De modo nenhum.

— Por conseguinte, podemos afirmar que são essas as funções desses órgãos.

— Sem dúvida.

— Mas como! Não poderias cortar uma vara de vide com uma faca, um trinchete e muitos outros instrumentos?

— Porque não?

— Mas com nenhum, julgo eu, tão bem como uma podoa, que é feita para isso

— É verdade.

— Portanto, não indicaremos que é essa a sua função?

— Por certo que indicaremos.

— Creio que agora compreendes melhor o que dizia há pouco, quando te perguntava se a função de uma coisa não é o que ela pode fazer ou o que ela faz melhor do que os outros.

— Compreendo — disse ele — e parece-me que é realmente essa a função de cada coisa.

— Bom. Mas não há também uma virtude em cada coisa a que é atribuída uma função? Voltemos aos exemplos precedentes: os olhos têm uma função?

— Têm.





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