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Capítulo 4: Capítulo 4

Página 102

Foi então que Adimanto interveio:

- Que responderás, Sócrates, se te disserem que não tornas esses homens muito felizes, e isso por culpa deles? Na realidade, a cidade pertence-lhes e não gozam nenhum dos bens da cidade, como outros que possuem terras, constroem belas e grandes casas, que mobilam com magnificência apropriada, fazem aos deuses sacrifícios domésticos, dão hospitalidade e, voltando ao que dizias há pouco, têm na sua posse ouro, prata e tudo o que, na opinião corrente, assegura a felicidade. Dir-se-ia que os teus guerreiros foram instalados na cidade apenas como auxiliares assalariados, sem outra ocupação que não seja a de estar de guarda.

- Sim - confessei. - Acrescenta que apenas ganham o sustento e não recebem soldos a mais, com os guerreiros vulgares, de modo que não poderiam viajar à sua custa, se o desejassem, nem dar dinheiro a cortesãs, nem fazer nenhuma dessas despesas que fazem os homens tidos por felizes. Eis alguns pontos que tu omites, com muitos outros semelhantes, no teu auto de acusação.

- Pois bem - disse ele -, que também eles tenham acesso a isso!

- Portanto, perguntas o que responderei para a minha defesa?

- Exactamente.

- Seguindo o caminho que escolhemos, descobriremos, julgo eu, o que convém responder. Diremos que não haveria nada de extraordinário no facto de os nossos guerreiros serem felicíssimos assim, que, aliás, ao fundarmos a cidade, não tínhamos em vista tornar uma única classe eminentemente feliz, mas, tanto quanto possível, toda a cidade. Com efeito, pensávamos que só numa cidade assim encontraríamos a justiça, e na cidade pior constituída a injustiça: examinando uma e outra, poderíamos pronunciar-nos sobre o que procuramos há muito tempo. Ora, agora julgamos modelar a cidade feliz, não pondo à parte um pequeno número dos seus habitantes para torná-los felizes, mas considerando-a como um todo; imediatamente depois examinaremos a cidade oposta. Se estivéssemos ocupados a pintar uma estátua e alguém viesse censurar-nos por não aplicarmos as mais belas cores nas partes mais belas do corpo - com efeito, os olhos; que são o que há de mais belo no corpo, teriam sido revestidos não de púrpura, mas de negro -, defender-nos-íamos sabiamente debitando-lhe este discurso: «ó espantosa personagem, não imagines que devíamos pintar olhos tão belos que deixassem de parecer olhos e fazer a mesma coisa para as outras partes do corpo, mas considera se, dando a cada parte a cor que lhe convém, criamos um belo conjunto.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 102

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265