E, virando-me as costas, partiu a correr para casa.
O ataque fora tão brusco que fiquei parado, aturdido.
Ainda ali me encontrava quando o meu anfitrião veio ter comigo. Havia recuperado a boa disposição.
- Espero que a minha mulher se tenha desculpado da sua ridícula saída.
- Desculpou-se, sim, certamente.
Tomou-me o braço e caminhámos pelo relvado.
- Não se deixe afectar pelo incidente - continuou. - Ofender-me-ia imenso se abreviasse uma hora que fosse a sua visita. Entre parentes é inútil, não é verdade?, andar com segredinhos. Ora bem, aqui está: a minha mulher sofre de ciúmes atrozes. Detesta seja quem for, homem ou mulher, que se interponha entre nós. O seu ideal é uma ilha deserta e um eterno frente a frente. Isto explica-lhe os seus modos que, neste ponto, confesso-o, raiam a mania. Prometa-me nunca mais pensar nisto.
- Prometo-lhe.
- Então, acenda este charuto e venha ver comigo o meu pequeno bestiário.
Consagrámos a tarde a esta inspecção. Toda a sua colecção exótica foi visitada: aves, diversos animais e répteis, uns em liberdade, outros enjaulados, alguns na casa. Falava com entusiasmo dos seus êxitos e dos seus dissabores, dos nascimentos e das mortes sobrevindas no bestiário. Uma alegria quase infantil arrancava-lhe exclamações de cada vez que, durante o nosso passeio, uma ave faustosa se levantava à nossa frente na erva ou um qualquer animal estranho fugia para se esconder. Finalmente, levou-me ao longo de um corredor que comunicava com uma ala da casa. Na extremidade havia uma porta pesada, munida de um taipal corrediço, próximo do qual uma roda com manivela de ferro e um tambor se achavam fixados à parede; e desta projectava-se, através do corredor, uma fila de varões sólidos.