A Harpa do Crente - Cap. 2: A VOZ Pág. 32 / 117

A VOZ

É tão suave ess’ hora,

Em que nos foge o dia,

E em que suscita a Lua

Das ondas a ardentia,

Se em alcantis marinhos,

Nas rochas assentado,

O trovador medita

Em sonhos enleado!

O mar azul se encrespa

Coa vespertina brisa,

E no casal da serra

A luz já se divisa.

E tudo em roda cala

Na praia sinuosa,

Salvo o som do remanso

Quebrando em furna algosa.

Ali folga a poeta

Nos desvarios seus,

E nessa paz que o cerca

Bendiz a mão de Deus.

Mas despregou seu grito

A alcíone gemente,

E nuvem pequenina

Ergueu-se no ocidente:

E sobe, e cresce, e imensa

Nos céus negra flutua,

E o vento das procelas

Já varre a fraga nua.

Turba-se o vasto oceano,

Com hórrido clamor;

Dos vagalhões nas ribas

Expira o vão furor

E do poeta a fronte

Cobriu véu de tristeza;

Calou, à luz do raio,

Seu hino à natureza.





Os capítulos deste livro