A Harpa do Crente - Cap. 4: MOCIDADE E MORTE Pág. 56 / 117

MOCIDADE E MORTE

Solevantado o corpo, os olhos fitos,

As magras mãos cruzadas sobre o peito,

Vede-o, tão moço, velador de angústias,

Pela alta noite em solitário leito.

Por essas faces pálidas, cavadas,

Olhai, em fio as lágrimas deslizam;

E com o pulso, que apressado bate,

Do coração os estos harmonizam.

É que nas veias lhe circula a febre;

É que a fronte lhe alaga o suor frio;

É que lá dentro à dor, que o vai roendo,

Responde horrível íntimo cicio.

Encostando na mão o rosto aceso,

Fitou os olhos húmidos de pranto

Na lâmpada mortal ali pendente,

E lá consigo modulou um canto.

É um hino de amor e de esperança?

É oração de angústia e de saudade?

Resignado na dor, saúda a morte,

Ou vibra aos céus blasfémia d’impiedade?

É isso tudo, tumultuando incerto

No delírio febril daquela mente,

Que, balouçada à borda do sepulcro,

Volve após si a vista longamente.





Os capítulos deste livro