O Bobo - Cap. 12: XII - A mensagem Pág. 114 / 191

Enquanto neste famoso castelo e no seu burgo se passavam os acontecimentos cuja narração procurámos fazer ao leitor nos antecedentes capítulos, o fogo da revolta estendia-se largamente por quase todos os distritos do condado de Portugal. O campo de Afonso Henriques aumentava diariamente com as bandeiras das beetrias e concelhos, com os homens de armas dos coutos e honras dos mais ilustres ricos-homens, e com muitos alcaides de castelos do próprio infantático ou regalengo de D. Teresa. Assim, ao passo que o conde Fernando Peres chamava os cavaleiros de Galiza e das outras províncias de Espanha para se defender, a guerra ia mudando o seu carácter de luta civil em luta de independência, e fazendo que o espírito de individualidade nacional se desenvolvesse e fortificasse.

A pouco mais de três léguas de Guimarães, Egas encontrou os esculcas e almogaures de D. Afonso. O arraial alvejava sobre os visos de uma serra com os arrebóis da manhã e as armas polidas cintilaram em breve aos primeiros raios do sol oriental. O cavaleiro, tendo-se dado a conhecer, atravessou por entre as tendas e chegou ao pavilhão do moço príncipe, que já se achava em conselho com o arcebispo de Braga e com outros prelados e barões.

Aí deu conta do que pudera alcançar das disposições tomadas pelo conde de Trava para a defesa, do grande número de lanças estrangeiras juntas em Guimarães, e das fortificações, acrescentadas às já tão formidáveis do castelo, e alevantadas de novo em roda do burgo.

– Mas essas torres e engenhos – dizia ele – não creio tenhamos de as combater, porque se diz que Fernando Peres pretende vir connosco a lide em campo; e a avultada soma de cavaleiros que se acham em Guimarães e o pequeno número de peões e besteiros são disso evidente sinal.





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