O Bobo - Cap. 12: XII - A mensagem Pág. 115 / 191

– E Gonçalo Mendes da Maia? – interrompeu o velho aio Egas Moniz. – Porque se conserva um dos mais esforçados e poderosos filhos-d’algo de Portugal entre os inimigos do infante? Viste-o? Alcançaste acaso saber quais eram seus intentos?

– Os seus intentos foram o impedir a guerra entre homens da mesma fé e da mesma linhagem: hoje a sua lança será a primeira que se enriste nessas lides que Deus quis fossem inevitáveis.

Estas palavras proferia-as um cavaleiro que afastara o reposteiro da entrada da tenda e, cruzando os braços, aí ficara parado.

Era o senhor da Maia.

O sobressalto foi geral. O trovador correu para ele e, depois de o abraçar, tomando-o pela mão o fez aproximar do infante.

– Eis aqui – disse – um dos vossos mais leais ricos-homens. No momento do perigo ele não podia faltar-vos.

– Ao menos não foi por culpa do filho de Pedro Froilaz – interrompeu o Lidador sorrindo. – Se por inesperado meio a Virgem me não salvara, a estas horas a minha morada seria a masmorra do Castelo de Guimarães, e a minha esperança de liberdade a tumba que dentro em pouco me levaria o cadáver a soterrar na galilé do Mosteiro de D. Muma.

O súbito aparecimento de Gonçalo Mendes, e ainda mais as suas palavras, até certo ponto ininteligíveis, excitaram vivamente a curiosidade do infante e dos seus prelados e cavaleiros. O nobre barão satisfez essa curiosidade narrando, não só o que se passara no ajuntamento da cúria, mas tudo o que depois sucedera, e como o bobo o salvara e a Fr. Hilarião.

– O pobre Dom Bibas – concluía ele – cumpriu à risca o que prometeu. O vílico da honra e solar da Maia e os vinte cavaleiros meus acostados vieram sucessivamente ajuntar-se connosco à saída do subterrâneo. O bobo lhes deu passagem pouco a pouco, e até vi com espanto que o último me conduzia a destro o meu cavalo de batalha. Deixando os homens de armas acompanhando o virtuoso  monge, adiantei-me à rédea solta em busca do arraial de meu senhor o infante, para lhe dizer: «Guimarães será vossa logo que vos aprouver!».





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