O Bobo - Cap. 12: XII - A mensagem Pág. 122 / 191

Vinha da orla do bosque vizinho do vau do Madroa, e tirava-o um cavaleiro, seguido de um pajem e seis lanças, o qual se dirigia evidentemente a Guimarães, e com aquelas toadas parecia anunciar intenções de paz. Dois almogaures saíram a reconhecê-lo; e, depois de falarem com ele poucos instantes, voltaram dizendo ser o recém-vindo um filho-d’algo que da parte do infante trazia mensagem à mui excelente rainha e ao nobre conde de Trava.

Era Egas. Atravessando rápido a distância que medeava entre o castelo e o arraial, ele chegara, muito antes que o Sol subisse ao zénite, ao termo da sua viagem. O coração batia-lhe com força. Ainda talvez visse Dulce! Eis o pensamento a que se limitavam já suas esperanças, porque a missão de que se encarregara era terrivelmente arriscada. Durante o caminho fora que ele medira a extensão dos perigos a que se expusera; mas a imagem de Dulce varria-lhe da alma o temor. Jurara a seus pés voltar nesse dia: e, para não ser perjuro, que lhe importava afrontar a cólera do senhor de Trava e o ódio profundo que devia devorar o coração de Garcia Bermudes? E todavia a mensagem que trazia, mais de guerra que de paz, forçosamente havia de despertar aquela cólera, e a sua presença este ódio, a ponto que não era fácil prever qual seria o modo por que sairia do passo estreito em que se aventurara.

Ainda estas cogitações o agitavam, quando ao lugar onde esperava, fora das barreiras, a licença para se apresentar perante a rainha e o conde, chegou o pajem Tructesindo, que o leitor já conhece, e falou com os homens de armas que rodeavam a cavalgada dos recém-vindos. A entrada do burgo e castelo lhes era franqueada, e Fernando Peres esperava o trovador para ouvir sua embaixada. O cavaleiro atravessou então, seguido dos seus, a ponte levadiça da cárcova e, passando além da grossa cinta dos muros e torres do castelo, encaminhou-se para a sala de armas dos paços da bela infanta de Portugal.





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