O Bobo - Cap. 16: Apêndice Pág. 187 / 191

Depois os duros guerreiros tinham-se afastado um do outro para se interporem onde viam fraquejar algum do seu lado.

Um português caiu por fim. Havia-o derribado o chefe contrário. No alto do estrado, de pé, imóvel, com os olhos revendo ira e sulcados de raios de sangue, o senhor de Trava, o nobre conde de Portugal e de Coimbra, contemplava fito aquele turbilhão que se agitava na arena, torcendo a espaços a boca para alcançar com os dentes os longos bigodes que mordia. Quando o cavaleiro português caiu o contraste de súbita alegria com a irritação mal reprimida arrancou-lhe um grito rouco e abafado:

– Bem, Bermudo, bem!

Todos os olhos dos cortesãos se cravaram no conde, que imprudentemente revelava o nome do cavaleiro. Mas uma nova circunstância veio distrair a atenção dos espectadores. O combate equilibrava-se. Dos quatro companheiros do Lidador que com ele mantinham o torneio contra os contendores adversos, um arredou-se de súbito e encostou-se à espada, curvado sobre ela. A visagem ou viseira tinha-lhe caído, quebrados os loros que a prendiam ao capelo de ferro; mas o rosto pisado e sanguento não permitia reconhecê-lo. A estocada que desarmando-o lhe transfigurara o gesto fora mais discreta do que o conde de Trava.

A infanta erguera-se: estava um pouco pálida mas risonha. Estendeu a mão para a arena lançando ao conde um olhar rápido. Fernando Peres acenou ao pajem da trombeta que imediatamente tirou dela um som prolongado, e, adiantando-se para a borda do cadafalso, gritou com voz infantil:

– Sua excelência a rainha dos Portugueses ordena que cesse o torneio e comece o tavolado.





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