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Capítulo 16: Apêndice

Página 186

Era o que tinha provocado a lide geral. A sua fronte orgulhosa, que subia acima das de todos os combatentes, como que resfolegava pelas vistas do elmo a altivez e a cólera. Aos primeiros golpes daquela espada dois nomes correram de boca em boca entre o povo. Golpes tais só havia dois braços de homens que os vibrassem: ou o de Lourenço Viegas de Ribadouro, ou o de Gonçalo Mendes da Maia. A agigantada estatura do cavaleiro e a ausência de Lourenço Viegas traíam o senhor da Maia, cuja força e esforço lhe tinham feito adquirir o apelido de Lidador.

Quase como o passar de relâmpago, dois desses golpes tremendos tinham caído em cheio um sobre a cervilheira outro sobre o guante ferrado de dois cavaleiros galegos que, incapazes por isso de menear a espada, foram obrigados a abandonar o torneio.

Passaram alguns instantes e mais dois cavaleiros do lado da corte tinham deixado de combater; mas para eles a sorte das armas fora dobradamente severa. Com pequeno intervalo caíra um e depois outro. A espada fatal do Lidador ferira sucessivamente nos seus capelos de ferro. Pendendo a cabeça e vacilando como embriagados, via-se-lhes gotejar o sangue por baixo da baveira, peça que defendia o queixo inferior, e deslizar-lhes pelo gorjal e pelo perponto até pingar na areia. Desatinados, depois de darem algumas passadas vagas, quase ao mesmo tempo, erguendo os braços, como duas árvores que cedem à derradeira machadada, bateram hirtos em terra.

Os golpes e estocadas seguiam-se cada vez com mais fúria. Se o Lidador surgia no meio dos seus como o pinheiro secular no meio da mata de robles, do outro lado distinguia-se um cavaleiro que mais destro e robusto parecia exercer uma espécie de supremacia entre os seus. Já duas vezes no meio da revolta a espada ardente do Lidador lhe tinha passado faiscando pelo arnês, uma abolando-lhe o elmo outra desfazendo-lhe as malhas do saio, sem que ele mostrasse ter sentido o mínimo abalo. Duas estocadas dirigidas ao peito do senhor da Maia, e habilmente varridas por este, haviam respondido às duas cutiladas.

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pág. 186 (Capítulo 16)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 186

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173