O Bobo - Cap. 6: VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão Pág. 51 / 191

– Ouve cá, Tructesindo – disse ele ao gentil pajem, acenando-lhe com a mão e sorrindo.

– Que ordenais, meu senhor e meu tio? – perguntou Tructesindo, chegando ao conde e cravando nele os olhos, em que se pintava toda a malícia possível num rapaz da sua idade.

Fernando Peres afagou-o pondo-lhe a mão sobre a cabeça, donde se lhe esparziam em ondas sobre os ombros os louros e anelados cabelos.

– Apraz-te, meu sobrinho, o ver esta grão-peça de cavaleiros, que muitas vezes se acharam já em lides de mouros, e que outras tantas têm ganhado o preço de justas e torneios, e sido proclamados vencedores por formosas damas, ao som de címbalos e trombetas, nos jogos da argolinha e do tavolado? Que me deras tu por ser um deles, e cingires uma espada e adaga?

– Dera, meu bom tio – respondeu o pajem –, dez ou vinte anos de vida para se acrescentarem à vossa, e não vos daria nada. Bem podíeis vós, se quisésseis, armar-me já cavaleiro, como me prometestes para daqui a um ano. Tenho dezassete e os dezoito vêm tão tarde!

– Por minha alma que respondeste avisado! – replicou o conde. – Não quisera eu anos da tua vida para ajuntar aos meus, que de ora avante me vêm aborridos e trabalhados. Brevemente eu te armarei cavaleiro: talvez em poucos dias ao som do tinir de golpes em fera arrancada. Basta que a paga de minha mercê seja cumprires afincadamente o feito de que vou encarregar-te.





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