O Bobo - Cap. 7: VII - O homem do zorame Pág. 63 / 191

– Oh, meu filho, meu filho! – replicou Fr. Hilarião – para que vieste expor-te à vingança de Fernando Peres, que mortalmente odeia a linhagem de Riba de Douro? Podias tu duvidar da lealdade do mais generoso e valente dos ricos-homens de Portugal?

– Não; mas era necessário que pudesse dizer aos que de desleal o acusam: «Vós mentis, e sobre isso porei meu corpo e mentis porque de sua boca ouvi eu que na hora do combate o seu pendão se hasteará junto da signa do infante». Não direi nisso a verdade, meu bom e leal cavaleiro?

– Egas – respondeu o Lidador –, que te importam a ti ou a mim os ditos de alguns sandeus? Quando eles ousarem vir a Guimarães dizer o que ainda hoje Gonçalo Mendes disse na cúria ao conde de Trava, tê-los-ei então por mais esforçados e mais leais do que ele. Até o fim procurei evitar esta guerra atroz de irmãos. Perdi a derradeira esperança. Agora volta ao arraial; e podes afirmar a Afonso Henriques que dentro de dois dias oitenta homens de armas e sessenta besteiros da terra da Maia estarão no seu arraial. Dize-lhe mais que o traidor Gonçalo Mendes espera com vinte cavaleiros que ele chegue para se unir a seus pendões, não de noite como salteador covarde, mas à luz do meio-dia, em que pese ao conde de Trava.

A indignação do rico-homem rompera como torrente; o monge, porém, confrangia-se, lembrando-se do perigo a que se expusera o imprudente Egas Moniz. Assim, interrompendo-o, disse ao mancebo:

– É necessário que partas já. No meio do ruído e confusão do banquete; entre a multidão de gente que vagueia ainda pelo castelo e pelo burgo ninguém te conhecerá. Mas qualquer imprudência pode perder-te: qualquer imprudência!... Repara bem, Egas. Estes paços encerram para ti a morte.





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