O Bobo - Cap. 7: VII - O homem do zorame Pág. 64 / 191

Eram o amor e o ciúme do moço trovador que o bom do monge mais receava. Sabia quanto ele amava Dulce: conhecia a violência das suas paixões, e que a do ciúme devia ser terrível naquele coração. Porventura o motivo da sua vinda a Guimarães não fora só o que dizia. Estas ideias, que de golpe tinham ocorrido a Fr. Hilarião, lhe faziam desejar com tanto afinco a partida breve do cavaleiro.

– Não sei porque a minha vida periga dentro destes muros – replicou Egas Moniz. – Há mui poucos dias que cheguei a Portugal; e o conde de Trava não sabe se o meu balção flutua no arraial do infante...

– Esqueceste depressa na Terra Santa – interrompeu o monge – que quando há um cadáver de assassinado entre família e família, a vingança, segundo o brutal foro de Espanha, que os santos cânones ainda não puderam destruir, dura de pais a filhos; convoca, sobe pena de desonra, todos os parentes do morto e do assassino a lides atrozes e a ódios implacáveis. A linhagem de Riba de Douro segue toda os pendões do infante. O conde folgaria com que a de Trava e Trastâmara fosse chamada a defender os dele pela voz imperiosa do que ricos-homens e infanções crêem brio e dever. Lembra-te, meu filho, da linhagem a que pertences, de que o conde é homem feroz, e que tu serias uma vítima ilustre para pretexto de perpétua guerra de homizio entre Portugal e Ganza.





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