O Bobo - Cap. 10: X - Generosidade Pág. 90 / 191

Acompanhando o conde de Trava, Garcia Bermudes atravessou a série dos aposentos que precediam o quarto da rainha, até uma pequena sala imediata à antecâmara real. Apenas os dois cavaleiros chegaram ali, um donzel que estava em pé junto da porta fronteira à da entrada, afastando um rico pano que mascarava esta e curvando-se respeitosamente, proferiu algumas palavras que os dois não perceberam. Pouco tardou que D. Teresa aparecesse. Trajava ainda o vestuário esplêndido com que assistira ao banquete, e a viveza desacostumada que conservava no olhar fazia crer que a irritação do seu espírito, despertada pelas últimas novas recebidas do arraial do infante, não havia inteiramente cessado. O numeroso séquito das suas donas e donzelas não a acompanhava, e com tremor involuntário Garcia notou que Dulce era quem unicamente a seguia.

Apenas entrou, a rainha encaminhou-se para os dois, que sucessivamente lhe beijaram a mão ainda formosa. Depois, dirigindo-se a Garcia Bermudes, mas volvendo rapidamente os olhos de quando em quando para o conde, lhe disse:

– Cavaleiro, leal é o teu coração, o teu braço esforçado, tua condição nobre e altiva: por isso te escolhi para alferes da minha hoste. Houve um tempo em que a filha de Afonso de Leão mal sofrera que outra voz diferente da sua surgisse no meio do silêncio dos cavaleiros de Portugal atentos ao brado de acometer. Esse tempo já lá vai! Hoje não sou mais que pobre viúva a quem filho ingrato quer privar da herança que recebi dos reis de quem descendo. A ti e ao nobre conde de Portugal e Coimbra pertence o salvar- me. Ele será o teu primeiro homem de armas, e como ele todos os que ainda não desmentiram o preito que me devem te obedecerão. Assim começo eu a provar-te quanto prezo um dos mais ilustres cavaleiros de Espanha.





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