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Capítulo 9: IX - O desafio

Página 89

Garcia Bermudes arrancou violentamente uma bolsa de couro dourado que, segundo a moda do tempo, lhe pendia do cinto: abriu-a; tirou de dentro um pequeno pergaminho, e entregando ao donzel uma e outra cousa continuou:

– Vai, e busca encontrar o incógnito que ontem falava a sós com Gonçalo Mendes e Fr. Hilarião. Afirmas que lhe viste o rosto: o seu nome já o sabes. Faze vigiar o mosteiro e a pousada do senhor da Maia: não poupes nem diligências nem almorabitinos, que essa bolsa vai bem recheada. Se o descobrires entrega-lhe este pergaminho: que o mostre aos vigias e roldas, e eles o deixarão sair da cerca do burgo, o que sem isso lhe fora impossível. Em recompensa disto, dize-lhe que Garcia Bermudes exige que amanhã, duas horas antes do sol-posto, esteja com suas armas e a cavalo no souto que se dilata além do vau do Madroa; e que se não o fizer é desleal e covarde.

– A cousa é dificultosa – replicou o malicioso donzel. – E se hoje não o descobrir?

– Demónio! – respondeu o alferes-mor batendo o pé no chão de impaciência. – Procura-o toda a noite, toda a manhã, todo o dia! É preciso que o encontres, se queres a nobre dignidade de cavaleiro. Entendes? Sem isso, enquanto Garcia Bermudes for alferes-mor, conta que não a obterás.

Não havia remédio: Tructesindo agarrou na bolsa e no pergaminho. Depois atravessou vagarosamente a sala, levantando a touca pelo lado de trás com o índex e coçando o toutiço. Ele tinha razão: a empresa era dificultosa.

Garcia Bermudes caiu então no seu habitual cismar. «Ao menos – pensava o cavaleiro – nunca ela dirá que a minha vingança foi vil e desleal.»

Daí a pouco uma voz que soava da porta dos aposentos interiores veio despertá-lo dos seus devaneios. Era o conde que com aspecto risonho dizia:

– A mui excelente rainha ordena venha imediatamente perante ela o nobre alferes da hoste de Portugal.

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pág. 89 (Capítulo 9)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 89

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173