O Bobo - Cap. 10: X - Generosidade Pág. 95 / 191

Fernando Peres, encaminhando-se para o lado oposto, ouviu Garcia Bermudes repetir com voz firme:

– Não: tu nunca serás minha.

O conde voltou a cabeça sem parar, encolheu os ombros e saiu.

Dulce, que ficara na postura em que se achava com a mão do alferes-mor entre as suas e a fronte pendida sobre ela, alevantou então os olhos e fitou-os no cavaleiro: o rosto deste era solene e triste.

– Estás satisfeita, Dulce? – perguntou o aragonês.

– Tu és bom e generoso, Garcia! Tu és bom e generoso! – murmurou a filha de Gomes Nunes. – Pudera eu oferecer-te um coração ainda virgem! Oh, de quanto amor eu cercaria os teus dias!

– Basta! – interrompeu o cavaleiro perturbado. – Que te importa, anjo do céu, se ao passares na Terra os raios da tua luz devoraram uma existência? Que importa?!... Oh, que nesta idade de vida e de esperança custa muito a morrer!

O alferes-mor levou as mãos ao rosto. Era porventura uma lágrima, e o mancebo envergonhava-se dessa lágrima neste doloroso momento; porque não era só doloroso, mas também grave e solene.

– Oh Garcia, Garcia! – replicou Dulce. – Qual gratidão poderá exceder a nossa para contigo?! Tu me salvaste e o salvaste a ele. Egas ser-te-á amigo, irmão, servo...

– Que nome saiu da tua boca?! – bradou o aragonês com olhos subitamente acesos de furor. – Irmão! amigo! Amaldiçoada a hora em que entre nós se dissessem essas infernais palavras! Cuidas tu que o amar-te, a ponto de renegar da minha alma, da minha perpétua felicidade, é não o detestar a ele?...





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