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Capítulo 10: X - Generosidade

Página 94

O alferes-mor, porém, a fez sair daquele estado violento.

– Não – disse ele aproximando-se de Dulce –, não serás minha vítima! Garcia Bermudes nunca se esquecerá do dever de cavaleiro. Seria acaso a minha vida mais risonha possuindo-te, quando o teu coração... me rejeita? Sê livre! Recuso a posse de Dulce, rainha de Portugal!

A pobre donzela largou os vestidos de D. Teresa, e pegando na mão do cavaleiro beijou-a soluçando!

– Eu te amarei como um irmão! – exclamou ela. – Eu te adorarei como um deus. Oh! tu sabes que só assim...

– Silêncio!... – interrompeu nobremente o cavaleiro: porque percebeu que Dulce na agitação em que se achava ia trair-se a si própria e revelar o seu segredo.

O conde continuava a contemplar esta cena com os braços cruzados e com um riso cruel nos lábios. Dirigindo-se então à rainha, prosseguiu no mesmo tom de ironia amarga:

– Bem se vê, senhora, que o vosso alferes-mor foi armado cavaleiro pelo Cid Rui Dias. Guarda puras as tradições daquele espelho brilhante de todas as cavalarias. Mas eu fraco mortal, que não ponho tão alto a mira, penso mais tranquilamente! Garcia Bermudes! Dulce! Escutai o que vos digo: são as minhas derradeiras palavras. Amanhã a estas horas o alferes-mor de Portugal terá uma esposa, e esta esposa será a nobre e rica herdeira dos Bravais.

E voltando-se para D. Teresa ajoelhou, beijou-lhe a mão, e disse:

– Espero que a mui excelente rainha, no momento em que vai recolher-se à sua câmara, permitirá que o mais leal dos seus vassalos se retire também para não perturbar os colóquios de dois amantes na véspera do seu noivado.

A inflexão que o conde dera a estas últimas frases tinha o que quer que era atroz e diabólico. D. Teresa estremeceu como sacudida por uma corrente eléctrica e, atravessando vagarosamente a sala, desapareceu.

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pág. 94 (Capítulo 10)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 94

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173