Folhas Caídas - Cap. 7: Capítulo VI Pág. 21 / 80

Capítulo VI

O ÁLBUM

Minha Júlia, um conselho de amigo;

Deixa em branco este livro gentil:

Uma só das memórias da vida

Vale a pena guardar, entre mil.

E essa n'alma em silêncio gravada

Pelas mãos do mistério há-de ser;

Que não tem língua humana palavras,

Não tem letra que a possa escrever.

Por mais belo e variado que seja

De uma vida o tecido matiz,

Um só fio da tela bordada,

Um só fio há-de ser o feliz.

Tudo o mais é ilusão, é mentira,

Brilho falso que um tempo seduz,

Que se apaga, que morre, que é nada

Quando o sol verdadeiro reluz.

De que serve guardar monumentos

Dos enganos que a esp'rança forjou?

Vãos reflexos de um Sol que tardava

Ou vãs sombras de um Sol que passou!

Crê-me, Júlia: mil vezes na vida

Eu coa minha ventura sonhei;

E uma só, dentre tantas, o juro,

Uma só com verdade a encontrei.





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