Capítulo XVII NO LUMIAR
Era um dia de Abril; a Primavera
Mostrava apenas seu virgíneo seio
Entre a folhagem tenra; não vencera,
De todo, o Sol o misterioso enleio
Da névoa rara e fina que estendera
A manhã sobre as flores; o gorjeio
Das aves inda tímido e infantil...
Era um dia de Abril.
E nós íamos lentos passeando
De vergel em vergel, no descuidado
Sossego d'alma que se está lembrando
Das lutas do passado,
Das vagas incertezas do porvir.
E eu não cansava de admirar, de ouvir,
Porque era grande, um grande homem deveras
Aquele Duque - ali maior ainda,
Ali no seu Lumiar, entre as sinceras
Belezas desse parque, entre essas flores,
A qual mais bela e de mais longe vinda
Esmaltar de mil cores
Bosque, jardim, e as relvas tão mimosas,
Tão suaves ao pé - muito há cansado
De pisar alcatifas ambiciosas,
De tropeçar no perigoso estrado
Das vaidades da terra.