- E os demónios, minha senhora! Diga, diga, que eu interesso-me em aspirar todos os aromas que rescendem das essências angélicas.
Margarida Carvalhosa descompôs-se a rir e continuou:
- Pois o aroma da tal essência angélica está sendo um aroma de arruda, meu caro poeta.
- Arruda, minha senhora?! Queira explicar-se.
- Rita deixou de ser a cara-metade do seu marido e passou inteira para o Dr. Anselmo Sanches.
- Calúnia torpe! - exclamei com sincero espanto.
Margarida Carvalhosa tange a campainha, sorrindo com irónica piedade da minha boa-fé.
- Venha cá, Josefa - disse ela à criada, que entrava.
- Repare se a mamã está por aqui perto...
A criada disse que a senhora baronesa estava no jardim.
- Conte - prosseguiu Margarida - diante deste senhor, sem acanhamento nem receio, o que me contou a respeito da brasileira.
E, voltando-se para mim, acrescentou:
- Esta criada hesitava; mas, animada pela ama, disse com visível repugnância:
- A brasileira... Então que quer Vossa Excelência que eu conte?
- Como se chamava o amante da sua ama? - disse Margarida.
- Era o Sr. Dr. Anselmo.
- Como soube você que ela amava o Dr. Anselmo?
- Como soube? Soube-o porque eu era a criada do quarto da senhora.
- Aquilo é muito significativo, Sr. Silvestre - disse, sorrindo com gentil malícia, a filha do barão, e acrescentou voltada para a rapariga: - E como tem você a certeza?
- Ora essa! A senhora não sabe?! Eu sabia tudo. De mim só se escondia ele. Até ela, quando o doutor começava a querer seduzir a pupila do Sr. Sousa, chorava muito e desabafava só comigo.
- Conte lá essa história da sedução da pupila. Como era isso? - disse eu.