Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 6: CAPÍTULO II - PÁGINAS SÉRIAS DA MINHA VIDA Pág. 107 / 156

Trata-se daquela Rita brasileira de quem o Sr. Silvestre disse que andavam enamorados os anjos.

- E os demónios, minha senhora! Diga, diga, que eu interesso-me em aspirar todos os aromas que rescendem das essências angélicas.

Margarida Carvalhosa descompôs-se a rir e continuou:

- Pois o aroma da tal essência angélica está sendo um aroma de arruda, meu caro poeta.

- Arruda, minha senhora?! Queira explicar-se.

- Rita deixou de ser a cara-metade do seu marido e passou inteira para o Dr. Anselmo Sanches.

- Calúnia torpe! - exclamei com sincero espanto.

Margarida Carvalhosa tange a campainha, sorrindo com irónica piedade da minha boa-fé.

- Venha cá, Josefa - disse ela à criada, que entrava.

- Repare se a mamã está por aqui perto...

A criada disse que a senhora baronesa estava no jardim.

- Conte - prosseguiu Margarida - diante deste senhor, sem acanhamento nem receio, o que me contou a respeito da brasileira.

E, voltando-se para mim, acrescentou:

- Esta criada hesitava; mas, animada pela ama, disse com visível repugnância:

- A brasileira... Então que quer Vossa Excelência que eu conte?

- Como se chamava o amante da sua ama? - disse Margarida.

- Era o Sr. Dr. Anselmo.

- Como soube você que ela amava o Dr. Anselmo?

- Como soube? Soube-o porque eu era a criada do quarto da senhora.

- Aquilo é muito significativo, Sr. Silvestre - disse, sorrindo com gentil malícia, a filha do barão, e acrescentou voltada para a rapariga: - E como tem você a certeza?

- Ora essa! A senhora não sabe?! Eu sabia tudo. De mim só se escondia ele. Até ela, quando o doutor começava a querer seduzir a pupila do Sr. Sousa, chorava muito e desabafava só comigo.

- Conte lá essa história da sedução da pupila. Como era isso? - disse eu.





Os capítulos deste livro