Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 5: SEGUNDA PARTE – CABEÇA
CAPÍTULO I – JORNALISTA Pág. 89 / 156

Vi que o homem grande, neste país, no mesmo ponto em que hasteia o estandarte da redenção, aí, de força, há de amargurar as torturas do seu Gólgota. Achei-me extemporâneo neste século e cobri com as mãos o rosto envergonhado, como os mártires da liberdade romana, que velavam com a túnica o rosto e diziam aos pretorianos: “Matai, escravos!”

Após alguns meses de devorantes pensamentos sobre o futuro desta terra, fui à minha aldeia vender uma tapada, e o milho de três colheitas, e tornei para o Porto, elaborando projetos que já não tinham que ver com o bem da sociedade. O egoísmo da cabeça, mil vezes mais odioso que o do coração, esporeava-me a falsificar os mais sagrados sentimentos, mascarando-os de modo que a sociedade me desse a desforra das agonias com que remunerara a minha dedicação e o custeamento do jornal, um ano e tantos meses.

O meu pensamento era casar-me rico e fechar os olhos temporariamente ao horizonte onde o desejo via uma pasta de ministro e onde a realidade me mostrava aquela terrível coisíssima nenhuma do Sr. Júlio Gomes da Silva Sanches, admirável nos seus dizeres.





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