Todos os meus artigos falavam em cometimentos grandiosos e interesses materiais do País.
Naquele tempo fui convidado a alistar-me na maçonaria, e, depois de prestar os juramentos terríveis sobre uma bainha de espada, único objeto do ritual que então apareceu, fui proposto para orador da loja, e aí fiz os meus ensaios de eloquência sanguinária, pedindo diferentes cabeças, como quem pede confeitos pela Semana Santa. Os meus irmãos ouvintes, que tinham que tinham todos uns nomes de guerra medonhos, tais como Átila, Gengiscão e Alarico, tomaram-me tamanho medo que me foram denunciar à polícia como demagogo e me exautoraram das funções da palavra.
Assanhado pelos estorvos, que me embargavam o passo, escrevi contra a estupidez da geração nova, que não valia mais que a velha, e chamei os povos às armas. O ministério público deu querela por abuso de liberdade de imprensa contra o jornal, cujo redator principal era eu. O jornal foi condenado e os assinantes não pagaram no fim do segundo trimestre.
Empenhei a minha casa para sustentar a gazeta, que três vezes foi condenada na multa e custas. A final, quando me vi exaurido de recursos e cansado de lutar com a indiferença pública, achei em mim terrível analogia de destino com todos os redentores intempestivos da humanidade, e bebi o meu cálice até às fezes, as quais fezes eram pagar à fábrica de papel as últimas cinquenta resmas, que eu fizera gratuitamente distribuir por esta raça de ingratos portugueses que, de três em três meses, mandavam vender o jornal às tendas.
Compenetrei-me da estolidez das minhas aspirações a desencharcar da lama um povo aviltado e cego da sua estupidez. Foi uma terrível deceção esta que me deu à cabeça os tratos que as mulheres de Lisboa me tinham infligido ao coração.