Assestei o olhar à terceira, à menina que tinha aspeto de serafim de tribuna de igreja. Disseram-me logo que o Dr. Anselmo Sanches a requestava traiçoeiramente. Ora, o Dr. Anselmo Sanches era um homem honesto.
Convém saber que em toda a parte do mundo sublunar a honestidade soa como hipocrisia velhaca.
O homem honesto dali é o que logra embair a opinião pública; recatar a impudência com o exterior sisudo da catadura; acentuar a expressão no tom sentencioso do preceito; contar com a mobilidade do globo visual para o revirar ao céu, quando o ânimo afeta confranger-se com a notícia de um escândalo; franzir os beiços e avincar a testa, se é forçoso chancelar com voto cominativo a pena de alguma imoralidade a retalho.
Conheci alguns homens honestos no Porto. Custou-me muito. Venci, para vê-los ao pé, estorvos desanimadores. Fez-me mister iniciar-me nos arcanos da desonestidade para entrar no segredo de certas existências que, dantes, me pareciam bem fadadas da virtude, ou dotadas de compleição refratária ao vício.