)Que, extinta a Lua incasta do prazer,
A esposa diz que já n'alma lhe dói
Saudades do teatro italiano,
E do primo doutor... grande magano.
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Acabo de demonstrar que é débil, se não impossível, armar romance com as meninas do Porto. Pode ser que este aranzel de coisas nunca faça gemer os prelos do meu país; porém, quem me diz a mim que eu não tenha o póstumo regalo de ser impresso e lido? Nesta hipótese, com que a vaidade se incha, quisera eu vestir a nudez dos meus contos, enfeitá-los com as jóias do estilo, que dão realce aos assuntos frívolos, e recompor mais literalmente com embelecos de imaginação as securas da verdade, dura de engolir neste tempo, se o engenho não a arrebica de pechisbeques e desvarios da natureza.
A viúva, bem aproveitada, podia dar alguns capítulos. Tolice tinha ela de mais saciar o espírito público, sempre faminto de ver em letra redonda as tolices próprias às costas alheias. Se eu tivesse sido mais moderado na minha linguagem, a criatura dava um livro; mas a minha razão, inconciliável com as parvoiçadas da milionária, saiu com aquela pergunta do caldo de repolho, mais para castigar os seus admiradores que para chasquear a tola. Bem pode ser que esta senhora, se fosse pobre, tivesse o siso comum, que o dinheiro produz milagres de variados feitios: a certas pessoas pule-as, espiritualiza-as, dá-lhes estilo sentencioso e inspiração para falarem de tudo com público aplauso; a outras pessoas despoetiza- as, materializa-as e embrutece-as. Conheço exemplos de tudo, e o leitor também.
A viúva, segundo me consta, antes de casar, era uma menina como são todas as meninas. Tinha os seus namoros, a quem respondia com bonita letra, e pensamentos, se não engenhosos, pudibundos. Casou com u riquíssimo velho por escolha dos seus pais e condescendência sua.