O Crime do Padre Amaro - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 151 / 478

A sua voz tinha tons roucos: e atirava furioso grandes palmadas à coxa.

Lembraram-lhe o dever cristão de perdoar as injúrias! A S. Joaneira com unção citou a bofetada que Jesus Cristo suportou. Devia imitar Cristo.

- Qual Cristo, qual cabaça! gritou Brito apoplético.

Aquela impiedade criou um terror.

- Credo! Sr. padre Brito, credo! exclamou a irmã do cônego, recuando a cadeira.

O Libaninho, com as mãos na cabeça, vergado sob o desastre, murmurava:

- Nossa Senhora das Dores, que até pode cair um raio!

E, vendo mesmo Amélia indignada, o padre Amaro disse gravemente:

- Brito, realmente você excedeu-se.

- Pois se estão a puxar por mim!...

- Homem, ninguém puxou por você, disse severamente Amaro. E com um tom pedagogo: - Apenas lhe lembrarei, como devo, que em tais casos, quando se diz a blasfêmia má, o reverendo padre Scomelli recomenda confissão geral e dois dias de recolhimento a pão e água.

O padre Brito resmungava.

- Bem, bem, resumiu Natário. O Brito cometeu uma grande falta, mas saberá pedir perdão a Deus, e a misericórdia de Deus é infinita!

Houve uma pausa comovida, em que se ouviu a Sra. D. Maria da Assunção murmurar "que ficara sem pinga de sangue": e o cônego, que durante a catástrofe pousara os óculos sobre a mesa, retomou-os, e continuou serenamente a leitura:

"...Conheceis um outro com cara de furão?..."

Olhares de lado fixaram o padre Natário.

"...Desconfiai dele: se puder trair-vos, não hesita; se puder prejudicar-vos, folga; as suas intrigas trazem o cabido numa confusão porque é a víbora mais daninha da diocese, mas com tudo isso muito dado à jardinagem, porque cultiva com cuidado duas rosas do seu canteiro."





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