- Oh filha! murmurava o escrevente.
Mas os sapatos da mãe rangeram na escada, e Amélia foi vivamente para o aparador acender o candeeiro.
A S. Joaneira parou à porta; e para dar a sua primeira aprovação maternal, disse, com bonomia:
- Então vocês estão aqui às escuras, filhos?
Foi o cônego Dias que participou ao padre Amaro o casamento de Amélia, uma manhã na Sé. Falou no ''a propósito do enlace'', e acrescentou:
- Eu estimo, porque é a contento da rapariga, e é um descanso para a pobre velha...
- Está claro, está claro... - murmurou Amaro, que se fizera muito branco.
O cônego pigarreou grosso, e ajuntou:
- E você agora apareça por lá, agora está tudo na ordem... A patifaria do jornal isso pertence à história... O que lá vai, lá vai!
- Está claro, está claro... - rosnou Amaro. Traçou bruscamente a capa, saiu da igreja.
Ia indignado; e continha-se, para não praguejar alto, pelas ruas. à esquina da viela das Sousas quase esbarrou com Natário, que o agarrou, logo, pela manga, para lhe soprar ao ouvido:
- Ainda não sei nada!
- De quê?
- Do liberal, do Comunicado. Mas trabalho, trabalho!
Amaro, que ansiava por desabafar, disse logo:
- Então ouviu a novidade? O casamento de Amélia... Que lhe parece?
- Disse-me o animal do Libaninho. Diz que o rapaz apanhou o emprego... Foi o doutor Godinho... E outro que tal!... Veja você esta corja. O doutor Godinho do jornal às bulhas com o governo civil, e o governo civil a atirar postas aos afilhados do doutor Godinho. Vá lá entendê-los! Isto é um país de biltres!
- Diz que há grande alegrão na casa da S. Joaneira! - disse o pároco, com um azedume negro.