O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 261 / 478

- Enfim, continuou o administrador, por altas considerações que eu pesei devidamente, tomo a responsabilidade de o soltar. Veja agora como se porta. A autoridade não o perde de olho... Bem, pode ir com Deus!

E sua excelência recolheu-se ao gabinete. João Eduardo ficou imóvel, como parvo.

- Posso ir, hem? balbuciou.

- Para a China, para onde quiser! Liberus, libera, liberum! exclamou o Domingos que, interiormente detestando padres, jubilava com aquele final.

João Eduardo olhou um momento em redor os empregados, o carrancudo Carlos; duas lágrimas bailavam-lhe nas pálpebras; de repente agarrou o chapéu e abalou.

- Poupa-se um rico trabalhinho! resumiu o Domingos, esfregando vivamente as mãos.

Imediatamente a papelada foi arrumada, aqui e além, à pressa. É que era tarde! O Pires recolhia as suas mangas de lustrina e a sua almofadinha de vento. O Artur enrolou os seus papéis de música. E no vão da janela, amuado, esperando ainda, o Carlos olhava sombriamente o largo.

Enfim os dois padres saíram acompanhados até à porta pelo senhor administrador, que, terminados os deveres públicos, reaparecia homem de sociedade. - Então por que não tinha o amigo Silvério vindo a casa da baronesa de Via-Clara? Houvera um voltarete furibundo. O Peixoto levara dois codilhos. Tinha dito blasfêmias medonhas!... Criado de suas excelências. Estimava bem que tudo se tivesse harmonizado. Cuidado com o degrau... às ordens de suas excelências...

Ao voltar porém ao seu gabinete dignou-se parar diante da mesa do Domingos, e retomando alguma solenidade:

- A coisa passou-se bem. É um bocado irregular, mas sensata! Bem basta já os ataques que há contra o clero nos jornais... A coisa podia fazer barulho. O rapaz era capaz de dizer que tinham sido ciúmes do padre, que queria desinquietar a rapariga, etc. É mais prudente abafar a coisa.





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