O Crime do Padre Amaro - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 285 / 478

Mas de repente pousou a faca, arregalou os olhos em redor, e passando a mão pelo estômago:

- Pois olhem, disse, não me estou também a sentir bem...

- Que é? que é?

- Um ameaçozito da dor. Passou, não vale nada.

D. Josefa, já assustada, não queria que ele comesse a pêra. Que a última vez que lhe dera fora por causa da fruta...

Mas ele, obstinado, cravou os dentes na pêra.

- Passou, passou, rosnava.

- Foi simpatia com a mamã, disse o pároco baixo a Amélia.

De repente o cônego afastou a cadeira, e torcendo-se de lado:

- Não estou bem, não estou bem! Jesus! Oh, diabo! Oh, caramba! Ai! ai! morro!

Alvoroçaram-se em volta dele. D. Josefa amparou-o pelo braço até o quarto, gritando à criada que fosse buscar o doutor. Amélia correu à cozinha a aquecer uma flanela para lhe pôr no estômago. Mas não aparecia flanela. Gertrudes topava contra as cadeiras, espavorida, à procura do seu xale para sair.

- Vá sem xale, sua estúpida! gritou-lhe Amaro.

A rapariga abalou. Dentro o cônego dava urros.

Amaro então, realmente assustado, entrou-lhe no quarto. D. Josefa de joelhos diante da cômoda gemia orações a uma grande litografia de Nossa Senhora das Dores; e o pobre padre-mestre, estirado de barriga sobre a cama, rilhava o travesseiro.

- Mas minha senhora, disse o pároco severamente, não se trata agora de rezar. É necessário fazer-lhe alguma coisa... Que se lhe costuma fazer?

- Ai, senhor pároco, não há nada, não há nada, choramigou a velha. É uma dor que vem e vai num momento. Não dá tempo pra nada! Um chá de tília alivia-o às vezes... Mas por desgraça hoje nem tília tenho! Ai, Jesus!

Amaro correu a casa a buscar tília. E dai a pouco voltava esbaforido com a Dionísia, que vinha oferecer a sua atividade e a sua experiência.





Os capítulos deste livro