O Crime do Padre Amaro - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 284 / 478

- Mas a cortesia à cruz do altar... bradou o cônego.

- É meia cortesia. Leia a rubrica: Caput inclinat. Leia Gavantus, leia Garriffaldi. E nem podia deixar de ser assim! Sabe por quê? Porque depois da missa o sacerdote está no auge da dignidade, uma vez que tem dentro em si o corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Logo, o ponto é meu!

E de pé, esfregou vivamente as mãos, triunfando.

O cônego abatera a papeira sobre as pregas do guardanapo, como um boi atordoado. E depois dum momento:

- Você não deixa de ter razão... Eu fui para o ouvir... Faz-me honra cá o discípulo, acrescentou piscando o olho a Amélia. Pois é beber, é beber! E depois salta o cafezinho bem quente, mana Josefa!

Mas um forte repique à campainha sobressaltou-os.

- É a S. Joaneira, disse D. Josefa.

A Gertrudes entrou com um xale e uma manta de lã:

- Aqui está isto que vem de casa da menina Amélia. A senhora manda muitos recados, que não pode vir, que se achou incomodada.

- Então com quem hei-de eu ir? disse logo Amélia, inquieta.

O cônego estendeu o braço sobre a mesa, e dando-lhe uma palmadinha na mão:

- Em último caso com este seu criado. E essa virtudezinha podia ir sossegada...

- Tem coisas, mano! gritou a velha.

- Deixa lá, mana. O que passa pela boca dum santo, santo fica.

O pároco aprovou ruidosamente:

- Tem muita razão o senhor cônego Dias! O que passa pela boca de um santo, santo fica! Para que viva!

- À sua!

E tocaram os copos, com um olho gaiato, reconciliados da controvérsia.

Mas Amélia ficara assustada.

- Jesus, que terá a mamã? Que será?

- Ora que há-de ser? preguiça! disse-lhe o pároco, rindo.

- Não te agonies, filha, disse D. Josefa. Vou-te eu levar, vamos todos levar-te...

- Vai a menina em charola, rosnou o cônego descascando a sua pêra.





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