O Crime do Padre Amaro - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 402 / 478

Mas a velha erguera-se sobre o cotovelo, e baixando a voz, com o magro carão aceso em ódio:

- E aqui para nós, a Amélia tem-se portado muito mal! Nunca lho hei-de perdoar... Confessou-se ao abade... É uma indelicadeza, sendo a confessada do senhor pároco, não tendo recebido de vossa senhoria senão favores... É uma ingrata, é uma traiçoeira!...

Amaro fizera-se pálido.

- Que me diz a senhora?

- A verdade! Que ela não o nega. Até se orgulha! É uma perdida, é uma perdida! Depois do favor que lhe estamos a fazer...

Amaro disfarçou a indignação que o revolvia. Riu até. Era necessário não exagerar. Não havia ingratidão. Era uma questão de fé. Se a rapariga pensava que o abade a podia dirigir melhor, tinha razão em se abrir com ele... O que todos queriam é que ela salvasse a sua alma... Que fosse pela direção de fulano ou sicrano, isso não importava... E nas mãos do abade estava bem.

E chegando vivamente a cadeira para o leito da velha:

- Então agora, todas as manhãs vai à residência?

- Quase todas... Que ela não há-de tardar, vai depois de almoço, volta sempre a esta hora... Ai, tem-me causado isto um desgosto!...

Amaro deu um passeiozinho nervoso pelo quarto, e estendendo a mão à velha:

- Pois minha senhora, eu não me posso demorar, que vim de fugida... Até um dia cedo.

E sem escutar a velha, que lhe pedia com ansiedade que ficasse para jantar - desceu os degraus como uma pedra que rola, meteu furioso pelo caminho da residência, ainda com o seu ramo na mão.

Esperava encontrar Amélia na estrada; e não tardou em a avistar quase ao pé da casa do ferreiro, agachada ao pé do valado, apanhando sentimentalmente florinhas silvestres.

- Que fazes tu aqui? exclamou, chegando junto dela.

Ela ergueu-se, com um gritinho.

- Que fazes tu aqui? repetiu.





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