O Crime do Padre Amaro - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 401 / 478

- Que me importa a mim o João Eduardo e os outros e tudo o que passou?...

Ele acudiu, transbordando dum sarcasmo amargo:

- Está claro, agora o grande homem é o Sr. abade Ferrão!

- Devo-lhe muito, é o que sei...

A Gertrudes neste momento entrava com o candeeiro aceso. E Amaro, sem se despedir de Amélia, abalou, de guarda-chuva em riste, rilhando os dentes de raiva.

* * *

Mas a longa caminhada até à cidade calmou-o. Aquilo na rapariga por fim era apenas um acesso de virtude e de escrúpulos! Vira-se ali só naquele casarão, amargurada pela velha, impressionada pelos palavrões do moralista Ferrão, longe dele, e tinha-lhe vindo aquela reação de devota com os seus terrores do outro mundo e apetites de inocência... Chalaça! Se ele começasse a ir à Ricoça, numa semana reganhava todo o seu domínio... Ah, conhecia-a bem! Era só tocar-lhe, piscar-lhe o olho... Estava logo rendida.

Passou porém uma noite inquieta, desejando-a mais que nunca. E ao outro dia à uma hora marchou para Ricoça, levando-lhe um ramo de rosas.

A velha ficou toda contente ao vê-lo. É que lhe dava saúde a presença do senhor pároco! E se não fosse a distância, havia de lhe pedir esmola de vir todas as manhãs. Até depois daquela visitinha rezava com mais fervor...

Amaro sorria, distraído, com os olhos cravados na porta.

- E a menina Amélia? perguntou por fim.

- Saiu... Isso agora todas as manhãs é a passeata, disse a velha com azedume. Vai à residência, é toda do abade...

- Ah! fez Amaro com um sorriso lívido. Nova devoção, não?... é pessoa de muitos méritos, o abade.

- Ai, não presta, não presta! exclamou D. Josefa. Não me percebe. Tem ideias muito esquisitas. Não dá virtude...

- Homem de livros... disse Amaro.





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