O Crime do Padre Amaro - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 409 / 478

João Eduardo aceitou, com as lágrimas nos olhos: era um salário magnífico que lhe vinha, uma posição, uma família, uma reabilitação estrondosa...

- Oh, senhor Morgado, nunca hei-de esquecer o que faz por mim!...

- É para meu gosto próprio!... É para arreliar a canalha! E partimos amanhã!

Em Chão de Maçãs, apenas desceu do vagão, exclamou logo para o chefe da estação que não conhecia João Eduardo, nem a sua história:

- Cá o trago, cá o trago um triunfo! Vem para quebrar a cara a toda a padraria... E se houver custas a pagar, sou eu que as pago!

O chefe da estação não estranhou - porque o Morgadinho passava no distrito por maluco.

Foi aí, nos Poiais, logo ao outro dia da sua chegada, que João Eduardo soube que Amélia e D. Josefa estavam na Ricoça. Soube-o pelo bom abade Ferrão, o único sacerdote a quem o Morgado falava, e que recebia em casa, não como padre, mas como cavalheiro.

- Eu como cavalheiro estimo-o, Sr. Ferrão, costumava ele dizer, mas como padre abomino-o!

E o bom Ferrão sorria, sabendo que, sob aquela ferocidade de ímpio obtuso, havia um santo coração, um pai de pobres na freguesia...

O Morgado era também grande amador de alfarrábios, questionador incansável; às vezes os dois tinham pelejas tremendas sobre história, botânica, sistemas de caça... Quando o abade, no fogo da controvérsia, punha de alto alguma opinião contrária:

- O senhor apresenta-me isso como padre ou como cavalheiro? exclamava, empinando-se, o Morgado.

- Como cavalheiro, Sr. Morgado.

- Então aceito a objeção. É sensata. Mas se fosse como padre, quebrava-lhe os ossos.

Ás vezes pensando irritar o abade, mostrava-lhe João Eduardo, batendo de alto no ombro do rapaz, numa carícia de amador, como a um cavalo favorito:

- Veja-me isto! Já ia dando cabo de mim. E ainda há-de matar dois ou três... E se o prenderem eu hei-de livrá-lo da forca!





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