O Crime do Padre Amaro - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 411 / 478

Não seria difícil levar aquele coração fraco e terno a perdoar o erro dela; e a pobre rapariga, depois de tantos transes, extinta aquela paixão que lhe entrara na alma como um sopro do demônio, levando-lhe a vontade, a paz e o pudor de empurrão para o abismo, encontraria na companhia de João Eduardo todo um resto de vida calmo, e contente, um canto suave de interior, refúgio doce e purificação do passado. Não falou nem a um, nem a outro, nesta ideia que o enternecia. Não era o momento agora, que ela trazia nas entranhas o filho do outro. Mas ia preparando com amor aquele resultado, - sobretudo quando estava com Amélia, contando-lhe as suas conversas com João Eduardo, algum dito muito sensato que ele tivera, os bons cuidados de preceptor que estava desenvolvendo na educação dos Morgaditos.

- É um bom rapaz, dizia. Homem de família... Destes a quem uma mulher pode realmente confiar a sua vida e a sua felicidade. Se eu pertencesse ao mundo, se tivesse uma filha, dava-lha...

Amélia não respondia, corando.

Já não podia objetar àqueles elogios persuasivos a antiga, a grande objeção - o Comunicado, a impiedade! O abade Ferrão destruíra-lha um dia, com uma palavra:

- Eu li o artigo, minha senhora. O rapaz não escreveu contra os sacerdotes, escreveu contra os fariseus!

E para atenuar este julgamento severo, o menos caridoso que tivera havia muitos anos, acrescentou:

- Enfim, foi uma falta grave... Mas está muito arrependido. Pagou-o com lágrimas, e com fome.

E isto enternecia Amélia.

* * *

Fora também por esse tempo que o doutor Gouveia começara a vir à Ricoça, porque D. Josefa tinha piorado com os dias mais frios do Outono.





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