O Crime do Padre Amaro - Cap. 24: Capítulo 24 Pág. 463 / 478

O sineiro emudeceu, assombrado.

- Adeus, tio Esguelhas. Dê cá a mão, tio Esguelhas. Adeus...

- Adeus, senhor pároco, adeus! disse o velho com os olhos arrasados de água.

Amaro fugiu para casa, contendo-se para não soluçar alto pelas ruas. Disse logo à Escolástica que ia partir nessa noite para Lisboa. O tio Cruz devia mandar-lhe um cavalo, para ir tomar o comboio a Chão de Maçãs.

- Eu não tenho senão o dinheiro que é necessário para a jornada. Mas o que aí me fica em lençóis e toalhas é para você...

A Escolástica, chorando de perder o senhor pároco, quis beijar-lhe a mão por tanta generosidade: ofereceu-se para fazer a mala...

- Eu mesmo a arranjo, Escolástica, não se incomode.

Fechou-se no quarto. A Escolástica, ainda choramigando, foi logo recolher, examinar as poucas roupas que estavam pelos armários. Mas Amaro daí a pouco gritou por ela: diante da janela uma harpa e uma rabeca, em desafinação, tocavam a valsa dos Dois mundos.

- Dê um tostão a esses homens, disse o padre furioso. E diga-lhes que vão pro inferno... Que está aqui gente doente!

E até às cinco horas a Escolástica não tomou a sentir rumor no quarto.

Quando o moço do Cruz veio com o cavalo, pensando que o senhor pároco adormecera, ela foi-lhe bater devagarinho à porta do quarto, choramigando já da despedida próxima. Ele abriu logo. Estava de capote aos ombros; no meio do quarto pronta e acorreada a mala de lona que devia ir à garupa da égua. Deu-lhe um maço de cartas para ir entregar nessa noite à Sra. D. Maria da Assunção, ao padre Silvério e a Natário: e ia descer, entre os prantos da mulher, quando sentiu na escada um ruído conhecido de muleta, e o tio Esguelhas apareceu muito comovido.

- Entre, tio Esguelhas, entre.





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