Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 24: Capítulo 24

Página 462

Amaro, ao sair do paço, foi direito à Sé. Fechou-se na sacristia, a essa hora deserta: e depois de pensar muito tempo com a cabeça entre os punhos, escreveu ao cónego Dias:

"Meu caro padre-mestre. - Treme-me a mão ao escrever estas linhas. A infeliz morreu. Eu não posso, bem vê, e vou-me embora, porque, se aqui ficasse, estalava-me o coração. Sua excelentíssima irmã lá estará tratando do enterro... Eu, como compreende, não posso. Muito lhe agradeço tudo... Até um dia, se Deus quiser que nos tomemos a ver. Por mim conto ir para longe, para alguma pobre paróquia de pastores, acabar meus dias nas lágrimas, na meditação e na penitência. Console como puder a desgraçada mãe. Nunca me esquecerei do que lhe devo, enquanto tiver um sopro de vida. E adeus, que nem sei onde tenho a cabeça. - Seu amigo do C. - Amaro Vieira."

''P.S. - A criança morreu também, já se enterrou''.

* * *

Fechou a carta com uma obreia preta; e depois de arranjar os seus papéis, foi abrir o grande portão chapeado de ferro, olhar um momento o pátio, o barracão, a casa do sineiro... As névoas, as primeiras chuvas já davam àquele recanto da Sé o seu ar lúgubre de Inverno. Adiantou-se devagar, sob o silêncio triste dos altos contrafortes, espreitou à vidraça da cozinha do tio Esguelhas: ele lá estava, sentado à chaminé, com o cachimbo na boca, cuspilhando tristemente para as cinzas. Amaro bateu de leve nos vidros - e quando o sineiro abriu a porta, aquele interior conhecido, rapidamente entrevisto, a cortina da alcova da Totó, a escada que ia para o quarto, agitaram o pároco de tantas recordações e de saudades tão bruscas, que não pôde falar um momento, com a garganta tomada de soluços.

- Venho-lhe dizer adeus, tio Esguelhas, murmurou por fim. Vou a Lisboa, tenho minha irmã a morrer...

E acrescentou com os beiços trêmulos dum choro que ia romper:

- Todas as desgraças vêm juntas. Sabe, a pobre Ameliazinha lá morreu de repente...

<< Página Anterior

pág. 462 (Capítulo 24)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Crime do Padre Amaro
Páginas: 478
Página atual: 462

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 10
Capítulo 3 19
Capítulo 4 45
Capítulo 5 59
Capítulo 6 77
Capítulo 7 93
Capítulo 8 111
Capítulo 9 123
Capítulo 10 142
Capítulo 11 182
Capítulo 12 204
Capítulo 13 217
Capítulo 14 236
Capítulo 15 272
Capítulo 16 290
Capítulo 17 313
Capítulo 18 319
Capítulo 19 344
Capítulo 20 361
Capítulo 21 376
Capítulo 22 395
Capítulo 23 425
Capítulo 24 455
Capítulo 25 469