O Crime do Padre Amaro - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 73 / 478

Com a alegria voltava-lhe o rosto do culto alegre - e lamentava então que a Sé fosse uma ampla estrutura de pedra dum estilo frio e jesuítico: quereria uma igreja pequenina, muito dourada, tapetada, forrada de papel, iluminada a gás; e padres bonitos oficiando a um altar ornado como uma étagère.

Fizera vinte e três anos quando conheceu João Eduardo no dia da procissão de Corpus-Christi, em casa do tabelião Nunes Ferral, onde ele era escrevente. Amélia, a mãe, a Sra. D. Josefa Dias tinham ido ver a procissão da bela varanda do tabelião, guarnecida de colchas de damasco amarelo. João Eduardo estava lá, modesto, sério, todo vestido de preto. Havia muito que Amélia o conhecia; mas naquela tarde, reparando na brancura da sua pele e na gravidade com que ajoelhava, pareceu-lhe "muito bom rapaz".

Á noite, depois do chá, o gordalhufo Nunes, de colete branco, foi pela sala exclamando, entusiasmado, com a sua voz de grilo: - É tirar pares, é tirar pares! - enquanto a filha mais velha ao piano tocava com brio estridente uma mazurca francesa. João Eduardo aproximou-se de Amélia:

- Ai, eu não danço! - disse ela logo com ar seco.

João Eduardo não dançou também; foi encostar-se a uma ombreira com a mão na abertura do colete, os olhos fitos em Amélia. Ela percebia, desviava o rosto, mas estava contente; e quando João Eduardo, vendo uma cadeira vazia, veio sentar-se ao pé dela, Amélia fez-lhe logo lugar acomodando os folhos de seda, agradada. O escrevente, embaraçado, torcia o bigode com a mão trêmula. Por fim Amélia voltando-se para ele:

- Então o senhor não dança também?

- E a Sra. D. Amélia? disse ele baixo.

Ela inclinou-se para trás, e batendo nas pregas do vestido:

- Ai! eu estou velha para estes divertimentos, sou uma pessoa séria.





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