Era uma manhã deliciosa. Havia um ar transparente e fino; o céu arredondava-se a uma grande altura com o azulado de certas porcelanas e, aqui e além, uma nuvenzinha algodoada, molemente enrolada, cor de leite; a folhagem tinha verde lavado a água do tanque uma cristalinidade fria; pássaros chilreavam de leve com vôos rápidos.
Sebastião estava debruçado para a rua, quando a ponteira de uma bengala, passos vagarosos cortaram o silêncio fresco. Era um vizinho de Jorge, o Cunha Rosado, o doente de intestinos; arrastava-se, curvado, abafado num cachenê e num paletó cor de pinhão, com a barba grisalha desmazelada, a crescer.
- Já a pé vizinho! - disse Sebastião.
O outro parou, ergueu a cabeça lentamente.
- Oh, Sebastião! - disse com uma voz plangente. - Ando a passear os meus leites, homem!
- A pé?
- Ao princípio ia na burrita até fora de portas, mas diz que me fazia bem o passeiozito a pé...
Encolheu os ombros com um gesto triste de dúvida, de desconsolação.
- E como vai isso? - perguntou Sebastião, muito debruçado para a rua, com afeto.
O Cunha teve um sorriso desolado nos seus beiços brancos:
- A desfazer-se!
Sebastião tossiu, embaraçado, sem achar uma consolação.
- Mas o doente, com as duas mãos apoiados à bengala, uma súbita radiação de interesse no olhar amortecido:
- Ó Sebastião, um rapaz alto, que eu tenho visto todos estes dias entrar pala casa do Jorge, é o Basílio de Brito, pois não é? O primo da mulher? O filho do João de Brito?
- É, sim, por quê?
O Cunha fez: "Ah! Ah!" com uma grande satisfação.
- Bem dizia eu! - exclamou. - Bem dizia eu! E aquela teimosa que não! Que não!.