O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 120 / 414

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- Mas que diabo queres tu? - E a voz de Julião irritava-se. - A culpa é dela. É dela! - insistiu, vendo o olhar de Sebastião. - É uma mulher de vinte e cinco anos, casada há quatro, deve saber que se não recebe todos os dias um peralvilho, numa rua pequena, com a vizinhança a postos! Se o faz, é porque lhe agrada.

- Ó Julião! - disse muito severamente Sebastião.

E dominando-se, com a voz comovida:

- Não tens razão, não tens razão!

Calou-se muito magoado.

Julião levantou-se.

- Amigo Sebastião, eu digo o que penso; tu fazes o que entendes.

Chamou o criado.

- Deixa - disse Sebastião precipitadamente, pagando.

Iam sair. Mas então o sujeito calvo, atirando o jornal, arremessou-se para a porta, abriu-a, curvou-se, e estendeu a Sebastião um papel enxovalhado.

Sebastião, surpreendido, leu alto, maquinalmente:

- "O abaixo-assinado, antigo empregado da nação, reduzido a miséria..."

- Fui íntimo amigo do nobre Duque de Saldanha! - gemeu chorosamente, com uma rouquidão, o sujeito calvo.

Sebastião corou, cumprimentou, meteu-lhe na mão duas placas de cinco tostões, discretamente.

O sujeito dobrou profundamente o espinhaço e declamou com uma voz cava:

- Mil agradecimentos a Vossa Excelência, senhor conde!





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