Sabem que o Jorge está no Alentejo... Está duas e três horas. É muito sério, é muito sério!
- Mas ela então é tola!
- Não vê o mal...
Julião encolheu os ombros, duvidando.
Mas a porta de baeta do bilhar abriu-se; um homem hercúleo, de bigode negro, muito escarlate, saiu bruscamente, e parando, segurando a porta aberta, gritou para dentro:
- E fique sabendo que havia de encontrar homem!
Uma voz grossa, do bilhar, respondeu-lhe uma obscenidade.
O sujeito hercúleo atirou a porta, furioso; atravessou o café resfolegando, apoplético; um rapaz chupado, de jaquetão de inverno e calça branca, seguia-o, com um ar gingado.
- O que eu devia fazer - exclamava o agigantado, brandindo o punho - era quebrar a cara àquele pulha!
O rapaz chupado dizia, com doçura e servilismo, bamboleando-se:
- Questões não servem para nada, Sô Correia!
- É que sou muito prudente - berrou o hercúleo. - É que me lembro tenho mulher e filhos! Se não bebia-lhe o sangue!
E saindo, a sua voz roncante perdeu-se no rumor da rua.
O criado muito pálido, tremia dentro do balcão; e o sujeito calvo, que erguera a cabeça, teve um sorriso de tédio, e retomou tristemente o jornal.
Sebastião, então, disse refletindo:
- Não te parece que seria bom avisá-la?
Julião encolheu os ombros, soltou uma baforada de fumo.
- Dize alguma coisa! - implorou Sebastião. - Tu não ias falar-lhe, hem?
- Eu? - exclamou Julião com um aspecto que repelia a idéia. - Eu! Estás doido!
- Mas que te parece, enfim?
E a voz de Sebastião tinha quase uma aflição.
Julião hesitou:
- Vai, se queres. Diz-lhe que se tem reparado... Enfim, eu não sei, meu amigo!
E pôs-se a chupar o seu cigarro.
Aquele mutismo afetou Sebastião. Disse com desconsolação:
- Homem, vim-te pedir um conselho.