O Primo Basílio - Cap. 5: CAPÍTULO V Pág. 123 / 414

.. Mas também, largar três tostões para trem!...

- Psiu, psiu! - fez do lado uma voz doce.

Era a estanqueira, com o seu longo vestido de luto tingido, o seu sorriso desconsolado.

Que era feito da Sra. Juliana? A dar o seu passeio, hem?

Gabou-lhe a sombrinha preta de cabo de osso. De muito gosto - disse.

- E como ia de saúde?

Mal. Dera-lhe a pontada. Ia ao médico...

Mas a estanqueira não tinha fé nos médicos. Era dinheiro deitado à rua... Citou a doença do seu homem, os gastos, um ror de moedas. E para quê? Para o ver penar e morrer como se nada fosse! Era um dinheiro que sempre chorava!

E suspirou. Enfim, fosse feita a vontade de Deus! E lá por casa do senhor engenheiro?

- Tudo sem novidade.

- Ó Sra. Juliana, quem é aquele rapaz que vai agora por lá todos os dias?

Juliana respondeu logo:

- É o primo da senhora.

- Dão-se muito!...

- Parece.

Tossiu, e com um cumprimentozinho:

- Pois, muito boas tardes, Sra. Helena.

E foi resmungando:

- Ora, fica-te a chuchar no dedo, lesma!

Juliana detestava a vizinhança; sabia que a escarneciam, que a imitavam, que lhe chamavam a "Tripa Velha"!... Pois também dela não haviam de saber nada! Podiam rebentar de curiosidade! Vinham de carrinho! Boa! Tudo o que visse ou que lhe cheirasse havia de ficar guardadinho, lá dentro. - "Para uma ocasião" - pensava com rancor, sacudindo os quadris.

A estanqueira ficou à porta, despeitada. E o Paula dos móveis, que as vira conversar, veio logo, deslizando sutilmente nas suas chinelas de tapete:

- Então a Tripa Velha escorregou-se? Ai! Não se lhe tira nada!

O Paula enterrou as mãos nos bolsos, com tédio:

- Aquilo, a do Engenheiro besunta-lhe as mãos... É ela quem abre a portita de noite.





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