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- Tanto não direi! Credo!
Paula fitou-a com superioridade:
- A Sra. Helena está ai ao seu balcão... Mas eu é que as conheço, as mulheres da alta sociedade! Conheço-as nas pontas dos dedos. É uma cambada!
Citou logo nomes, alguns ilustres; tinham amantes inumeráveis: até trintanários. Algumas fumavam, outras entortavam-se. E pior! E pior!
- E passeiam por ai, muito repimpadas de carrinho, à barba da gente de bem!
- Falta de religião! - suspirou a estanqueira.
O Paula encolheu os ombros:
- A religião é que é, Sra. Helena! Com os padres é que é!
E agitando furioso o punho fechado:
- Com os padres é uma choldra viva!
- Credo, Sr. Paula, que até lhe fica mal!...
E o carão amarelado da estanqueira tinha uma severidade de devota ofendida.
- Ora, histórias, Sra. Helena! - exclamou o homem com desprezo.
E bruscamente:
- Por que é que acabaram os conventos? Diga-me! Porque era um desaforo lá dentro.
- Oh, Sr. Paula! Oh, Sr. Paula! - balbuciava a Helena, recuando, encolhendo-se
O Paula atirava-lhe as impiedades como punhaladas.
- Um desaforo! De noite as freiras vinham por um subterrâneo ter com os vinhaça e mais vinhaça. E batiam o fandango em camisa! Anda isso por aí em todos os livros.
E erguendo-se nas chinelas:
- E os jesuítas, se vamos a isso! Sim! Diga!
Mas recuou, e levando a mão à pala do boné:
- Um criado da senhora - disse com respeito.
Era Luísa que passava, vestida de preto, o véu descido. Ficaram calados, a olhá-la.
- Que ela é muito bonita! - murmurou a estanqueira, com admiração.
O Paula franziu a testa:
- Não é mau bocado... - disse. E acrescentou, com desdém: - Pra quem gosta daquilo!...
Houve um silêncio. E o Paula rosnou:
- Não são as saias que me levam o tempo, nem disto!.