À Patriarcal passava um cupê de praça. Tomou-o, mandou-o a ir ao Hotel Central.
O Sr. Brito saíra logo de manhã cedo, disse o porteiro muito azafamado. Decerto algum paquete chegara, porque entravam bagagens, fortes malas cobertas de oleado, caixas de madeira debruadas de ferro; passageiros com ar espantado da chegada, ainda entontecidos do balouço do mar, falavam, chamavam. Aquele movimento animou-a; veio-lhe um desejo de viagens, do ruído noturno das gares à claridade do gás, da agitação alegre das partidas nas manhãs frescas, sobre o tombadilho dos paquetes!
Deu ao cocheiro a adresse do Paraíso. E à maneira que o trem trotava parecia-lhe que toda a sua vida passada, Juliana, a casa, se esbatiam, se dissipavam num horizonte abandonado. A porta de um livreiro julgou entrever Julião; debruçou-se pela portinhola, precipitadamente; não o avistou, teve pena; ia-se sem ver um amigo da casa! Todos agora, Julião, Ernestinho, o Conselheiro, D. Felicidade lhe pareciam adoráveis, com qualidades nobres, que nunca percebera, que repentinamente tomavam um grande encanto. E o pobre Sebastião, tão bom! Nunca mais lhe ouviria tocar a sua malaguenha!
Ao fim da Rua do Ouro o cupê parou num embaraço de carroças, e Luísa viu no passeio ao lado o Castro, o Castro dos óculos, o banqueiro, o que Leopoldina lhe dizia que tinha uma paixão por ela; um rapazito roto ofereceu-lhe cautelas; e o Castro nédio, com os dois polegares nas algibeiras do colete branco, dizia graças ao rapaz, com um desdém ricaço, dardejando olhadelas sobre Luísa, através dos seus óculos de ouro.